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A caminho da década perdida


27/06/2022


Estudo mais recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), baseado em dados oficiais do IBGE, acende o sinal de alerta para o setor em Goiás. Durante alguns anos, apesar de termos a nona maior economia estadual do País, um indicador sempre relevante para mostrar nossa força setorial, foi ter alcançado a sétima posição entre parques industriais no Brasil.

Para uma industrialização recente como a goiana, é uma conquista muito relevante e revela o esforço pelo desenvolvimento e seus impactos já são sentidos em indicadores sociais e econômicos, como o IDHs e o Índice de Gini das regiões industriais.

Mas a sétima posição está ameaçada pelo forte crescimento de outros Estados, como a Bahia. Goiás deu passos tímidos na atração de investimentos desde meados da década passada e perdeu, de fato, competitividade na atração de grandes projetos industriais e também da expansão dos aqui instalados – que, em parte, optaram por fazer novos investimentos em outras plantas em outros Estados.

Em 2018, Goiás tinha 15.827 indústrias – duas mil a mais que o parque industrial baiano. No último dado divulgado, Goiás avançou para 17.178, mas a Bahia teve um crescimento mais vigoroso, chegando a 16.594 – encostando praticamente e perto de tirar a posição de Goiás. A Bahia expandiu três vezes mais que Goiás no período.

Este pode ser considerado um bom indicador de competitividade, mas se avançarmos em outros números e também no cenário mais empírico, vamos lidar com a mesma realidade: Goiás avança a passos lentos e é bem menos atrativo hoje do que já foi na década passada. Nas mesas de estratégias das médias e grandes indústrias, não me lembro, nas últimas décadas, Goiás esteve tão pouco presente.

A questão maior é que os outros Estados avançaram em suas estratégias de captação de negócios, melhoraram seus programas, adaptaram suas economias, aprimoraram suas vantagens competitivas e Goiás, desde 2015, passou a ser questionador da sua própria política de desenvolvimento – essa crise de identidade custa caro hoje, com perda de grandes investimentos e milhares de empregos.

Essa insegurança é uma imagem que precisa descolar de Goiás. Temos nossos programas e um perfil desenvolvedor – pioneiro e maior defensor, aliás, no modelo que hoje é copiado por todos. Temos o AgreGO, um inédito plano diretor da indústria goiana, que será uma referência para o setor no País, que precisa dar passos largos. No entanto, teremos de agir rápido para evitar que percamos o protagonismo econômico do Centro-Oeste, por exemplo. Hoje, não somos referência regional – se em parque industrial estamos sob risco para a Bahia, em outros, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul já começam a despontar na região, com ritmo de expansão maior do que o goiano.

Precisamos de uma sala de situação focada no desenvolvimento que atue 24 horas em prol de Goiás. É preciso captar o movimento dos negócios com rapidez para absorver ganhos, inclusive, tributários, pois, como já mostramos, a engenharia dos impostos no Brasil exige que façamos contas para favorecer o Estado. Um exemplo, entre tantos, pode ser citado na arrecadação de tributos no setor da soja, que, ao não estimular o processamento no Estado, se esvai quase toda na compensação de créditos tributários quando ‘importamos’ a soja processada em Estados vizinhos. Perdemos empregos e “pagamos” caro por não industrializar. É mais barato e inteligente estudar todos setores que geram crédito a compensar e trazer este parque industrial para dentro do Estado, só para ficar em um exemplo.

A avaliação é que os efeitos da política correta de expansão dos Estados emergentes já comprometem a posição de destaque alcançada por Goiás em três décadas de forte expansão da industrialização. Em dois ou três anos, vamos completar uma década do início da nossa estagnação. Será nossa década perdida – com perdas que hoje já nos assustam. É preciso de uma reação urgente e inteligente.

*Edwal Portilho, o Tchequinho, é presidente-executivo da Adial (Associação Pró-desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás)

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