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PIB cresce 1% no primeiro trimestre, puxado pelo setor de serviços


02/06/2022


Processo de volta do funcionamento normal de negócios ocorre desde o terceiro trimestre de 2020, com idas e vindas, marcadas pelas ondas de contágio da covid-19

A continuidade do processo de normalização das atividades econômicas mais dependentes do contato social e as atividades exportadoras impulsionaram a economia no primeiro trimestre, que cresceu 1% ante os três últimos meses de 2021, segundo os dados do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia), divulgados nesta quinta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com a normalização das atividades, o setor de serviços puxou a economia pelo lado da oferta, com avanço de 1% ante o quarto trimestre de 2021,enquanto a indústria cresceu 0,1% e a agropecuária caiu 0,9%.

O processo de volta do funcionamento normal de negócios ocorre desde o terceiro trimestre de 2020, com idas e vindas, marcadas pelas ondas de contágio da covid-19. Agora, parece praticamente encerrado. Com o fim do efeito da normalização e a inflação elevada, economistas lançam dúvidas sobre a capacidade de a economia manter o ritmo até o fim do ano e em 2023.

“Uma parte da explicação sobre 2022 é que 2021 não acabou. Não tínhamos conseguido reabrir toda a economia ano passado”, disse Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenadora do Boletim Macro Ibre.

No curto prazo, a normalização também vem impulsionando a melhora do mercado de trabalho, especialmente porque os serviços mais afetados pelas restrições ao contato social – como bares, restaurantes, hotéis, casas de show, cinemas e salões de beleza – geram muitos empregos. No trimestre móvel encerrado em abril, a taxa de desemprego caiu, embora as novas vagas de trabalho estejam pagando salários menores do que antes da pandemia.

Conforme Guilherme Mercês, chefe da Divisão de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a melhora no mercado de trabalho também ajudou a sustentar o consumo das famílias. Embora os salários dos novos empregos estejam mais baixos do que antes da pandemia, com mais trabalhadores ocupados, há mais gente reforçando os orçamentos domésticos, impulsionando a demanda. O aumento das transferências de renda, com a introdução do Auxílio Brasil de R$ 400, e antecipações do 13º-salário para pensionistas também ajudam.

“A retomada do emprego tem sido o principal fator de surpresa, para explicar os números de comércio e serviços. Isso acontece mesmo com o rendimento médio caindo”, afirmou Mercês. O crescimento parece ter se mantido neste segundo trimestre, mas as dúvidas sobre o ritmo da economia de meados do ano em diante se justificam por causa da inflação elevada e dos remédios amargos para enfrentá-la. Causada ainda pelos desequilíbrios associados à pandemia e agravada pela guerra na Ucrânia, a inflação –espalhada, com alta em torno de 12%, no acumulado em 12 meses – corrói os rendimentos das famílias, que tenderão a consumir menos. Para conter os reajustes de preços, o Banco Central (BC) age para esfriar a economia. Desde março do ano passado, a Selic, taxa básica de juro, saltou de 2,0% para 12,75% ao ano.

“Está faltando um motor para a economia. A inflação é sinal de que está faltando ‘gasolina’ no motor”, afirmou Matos, do Ibre/FGV.

Para piorar, a falta de combustível no motor do crescimento poderá ser reforçada pelo excesso de endividamento, lembrou Mercês, da CNC. Segundo o economista, as sondagens de confiança da entidade mostram que oito em cada dez famílias têm dívidas a vencer. É o maior nível de endividamento em 12 anos.

Ainda que esse item meça todo tipo de dívida, não apenas aquelas em atraso, isso sugere que os aumentos de juros feitos até agora pelo BC poderão ter um efeito ainda maior. Ao encarecer parcelas de financiamentos, principalmente das famílias que recorrem ao cartão de crédito, a alta dos juros deixará ainda menos recursos para o consumo nos orçamentos domésticos, disse Mercês.

O economista ainda teme que, diante de uma inflação elevada mais persistente, o BC seja obrigado a manter os juros em patamar alto por mais tempo. Isso porque há sinais de inflação generalizada, como a aceleração dos preços de serviços – que já acumulam alta em torno de 8,0% em 12 meses. Diferentemente dos preços de alimentos e combustíveis, que sobem por causa de choques, mas podem arrefecer em seguida, os preços de serviços são mais difíceis de ceder e só reagem a uma economia mais fria. (Daniel Teixeira/Estadão)

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