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Quais recordes a inflação brasileira já quebrou em 2022


18/05/2022


A inflação teve nova alta em abril de 2022 no Brasil. Os preços avançaram 1,06% no mês, segundo divulgado na quarta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A escalada inflacionária pressiona o bolso da população em um momento de renda baixa. Embora não chegue a configurar um cenário de hiperinflação como nos anos 1980 e 1990, o aumento de preços em 2022 quebra marcas negativas do período pós-Plano Real – programa econômico que domou a inflação descontrolada em 1994.

A inflação alta de 2022 não é uma exclusividade do Brasil. Outros países também quebram marcas de avanços de preços – é o caso, por exemplo, dos EUA, que registram o pior quadro inflacionário em 40 anos. Os preços globais têm sido afetados, como um todo, pelas disrupções das cadeias de produção causadas pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia.

Neste texto, o Nexo mostra algumas das marcas atingidas pelo Brasil no momento de alta de preços de 2022.

A maior inflação em doze meses desde 2003 A aceleração da inflação brasileira teve início em meados de 2020. Em um primeiro momento, essa alta foi focada em alimentos como arroz, óleo de soja e carnes.

Em 2021, a alta de 10,06% nos preços foi marcada pelos aumentos de combustíveis, impulsionados pela alta do petróleo no mercado internacional e pelo dólar caro; pela conta de luz, que subiu com o acionamento de usinas termelétricas em meio à seca que esvaziou reservatórios de hidrelétricas; e por alguns alimentos como café e açúcar, cuja produção foi prejudicada por fenômenos climáticos como a seca e geadas.

Nos primeiros meses de 2022, a pressão sobre a inflação ganhou novo fôlego com a guerra na Ucrânia, que levou à alta de preços internacionais de commodities como petróleo e grãos. No Brasil, isso foi sentido na forma de aumentos de alimentos e de mais um impulso em combustíveis, já que a Petrobras mantém a política de acompanhar os preços internacionais do barril de petróleo.

12,13%

é a inflação acumulada em doze meses entre maio de 2021 e abril de 2022, segundo o IBGE

A inflação acumulada em doze meses no Brasil chegou em abril de 2022 ao patamar mais alto desde outubro de 2003. O gráfico abaixo ilustra a trajetória dos preços desde 1999.


PREÇOS EM ALTA


A inflação só esteve mais alta no século 21 no Brasil no período entre 2002 e 2003. No pico, a alta de preços em doze meses chegou a 17,24% em maio de 2003.

Naquela época, investidores brasileiros e estrangeiros temiam que Luiz Inácio Lula da Silva – vencedor das eleições presidenciais de 2002 –, alinhado à esquerda, comprometesse a estabilidade econômica alcançada após o Plano Real. O momento foi de especulação e volatilidade. Em junho de 2002, Lula publicou a “Carta ao Povo Brasileiro”, se comprometendo a manter as bases econômicas do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Já no poder, Lula adotou políticas econômicas ortodoxas, como aumento de juros e redução da dívida pública. A inflação cedeu no segundo semestre de 2003 e fechou o ano em 9,30%.

Outro momento de inflação alta vivida no Brasil desde então ocorreu em 2015 e 2016, quando chegou ao pico de 10,71% em doze meses. Naquele momento, o governo de Dilma Rousseff liberou preços represados de combustíveis e energia elétrica, o que levou a uma aceleração da inflação.

Inflação mensal: de volta aos anos 1990 Em 2022, os dados mensais de inflação em março e abril bateram marcas que não eram atingidas desde a década de 1990.

Em março, os preços subiram 1,62%, impulsionados pelo mega aumento de combustíveis promovido pela Petrobras. Foi o pior número para o mês desde 1994 – ou seja, desde antes da execução das etapas mais críticas do Plano Real (as cédulas e moedas de real começaram a circular em 1° de julho de 1994).

O gráfico abaixo mostra todos os registros inflacionários para março desde 1995. O ano de 1994 não foi incluído porque o número alto, de 42,7%, prejudicaria a visualização do restante dos dados.


INFLAÇÃO DE MARÇO


Em abril de 2022, a inflação de 1,06% foi a maior para o mês desde 1996. Ou seja, foi o pior número para o mês em 26 anos. Foi a primeira vez que a barreira de 1% foi quebrada desde aquele ano – embora outros anos, como 2003 e 2005 tenham chegado próximos desse patamar.


INFLAÇÃO DE ABRIL


O pior início de ano desde 2015 Entre janeiro e abril de 2022, a inflação subiu mais de 4%. Foi o pior avanço acumulado para o período desde 2015.

4,29%

foi a inflação acumulada entre janeiro e abril de 2022, segundo o IBGE

Foi também o quarto pior resultado para os primeiros quatro meses do ano desde o Plano Real – atrás de 1995, 2003 e 2015. É o que ilustra o gráfico abaixo.


PRIMEIRO QUADRIMESTRE


A inflação dos primeiros quatro meses de 2022 também já supera o avanço de preços de todo o ano de quatro ocasiões depois do Plano Real. As inflações “finais” de 1998 (1,65%), 2006 (3,14%), 2017 (2,95%) e 2018 (3,75%) foram menores que a inflação de janeiro a abril de 2022.

A inflação de todo o ano de 2019, por sua vez, ficou em 4,31%. O número é levemente superior ao do primeiro quadrimestre de 2022, de 4,29%.


Outra marca que pode ser batida

Desde 1999, o Brasil adota um regime de metas de inflação. O Banco Central estipula metas para a variação de preços em um ano, com uma margem para mais e outra para menos – as chamadas bandas. Ele age para manter a inflação dentro desse objetivo, usando a taxa de juros como instrumento. Se a inflação está alta, o Banco Central aumenta os juros; se a inflação está baixa, há espaço para reduzir a Selic.

Entre março de 2021 e maio de 2022, a autoridade monetária brasileira promoveu um ciclo de alta de juros acentuado. Em 14 meses, a taxa Selic foi de 2% ao ano – a mais baixa da história – para 12,75% ao ano, a maior desde 2017.

Mesmo elevando os juros, o Banco Central não conseguiu cumprir a meta de inflação de 2021 – cujo teto era de 5,25%. Foi a primeira vez desde 2015 que a banda foi superada.

Em 2022, a expectativa entre agentes de mercado é que os preços fechem o ano com alta de 7,89%. Embora represente uma desaceleração em relação ao quadro do primeiro semestre, o número é maior que o limite superior da meta, de 5%.

PREÇOS E METAS

O próprio Banco Central projeta que a inflação deverá perder fôlego, mas terminar o ano acima do teto da meta, em 7,3%. Se isso acontecer, será o segundo ano consecutivo em que o Banco Central não conseguirá manter a inflação dentro das bandas. A última vez que a meta não foi atingida em dois anos consecutivos aconteceu no início do século, quando a inflação superou o teto desejado pelo Banco Central em 2001, 2002 e 2003.

Fonte: Nexo Jornal

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