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Simplificação e a modernização da Reforma Tributária?

05.06.2023


*Erik Figueiredo


Seguem alguns números relativos à reforma tributária. Considerarei a proposta que unifica PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS.


O governo federal ressalta a simplificação e a modernização, visando uma reforma mais justa.


Mas será que eles estão cortando na própria carne? Não estão!

De acordo com a "Estimativa da carga tributária bruta do governo geral" da STN, a carga tributária, em proporção do PIB, foi de 32,51% em 2020.


O governo federal é responsável por 67% dessa carga. Logo, seria natural que o governo federal se preocupasse com isso. Certo?





Não muito! A proposta de reforma só será direcionada a 39% dessa carga. O resto permanecerá como está. Em outras palavras, 61% da carga de tributos permanecerá intocada.


(Curioso em relação a quais impostos permanecem como estão? Retorno a esse ponto mais à frente).





Deixamos a parte que não será alterada de lado, por enquanto. Vamos focar na parte dos impostos que o governo federal se propõe a alterar. Para minha surpresa, nessa parcela, estão incluídos apenas 35% de impostos federais.





Em outras palavras, para cada R$ 1,00 de imposto passível de ser modificado pela reforma proposta pelo governo federal, R$ 0,65 são da arrecadação estadual e municipal.


O governo federal propõe modernizar e simplificar a arrecadação dos outros entes federativos, não a dele.


Quando avaliamos a reforma sob a ótica da importância do imposto alterado para a arrecadação de cada ente envolvido, notamos que a proposta pretende modificar:

82,3% da arrecadação dos estados;


42,5% da arrecadação dos municípios e;


somente, 20,6% da arrecadação federal.





Claramente o governo federal propõe um sacrifício de todos os entes, sem fazer o próprio dever da casa. O governo federal não corta na própria carne.


A quantidade de impostos cobrados pelo governo federal nem cabe em uma única figura.





Mas observe que eles se propõem a alterar 3 de uma lista extensa.


A pergunta que fica é: por que levar à frente uma proposta onde o protagonista, governo federal, não reflete sobre o próprio seu papel na elevada carga tributária brasileira?


Em tempo, os questionamentos e observações não param por aqui. Vejamos:


1) os impactos econômicos estão longe de serem apresentados pelos proponentes: as simulações apresentadas levam em conta a incidência do ICMS sobre toda a cadeia de produção, ou só o consumo final?;


2) alguma simulação considera a distribuição espacial das empresas no território nacional e a realocação dessas unidades no pós-reforma?;


3) são apresentados os setores ganhadores e perdedores em decorrência da reforma?;


4) o vetor de consumo da POF, geralmente usado nos textos que simulam os efeitos da distribuição dos impostos para os entes nacionais leva em conta a incidência de consumo advindo do setor informal?


Explicando: estados com maior percentual de pobreza possuem uma parcela de consumo que não recolhe tributo, logo, a POF superestimaria o potencial de arrecadação desses estados.


Vejam aqui:


Algumas dessas perguntas são totalmente retóricas. A resposta é "não".


Eu só as fiz para para ilustrar o quão distantes estamos de um debate maduro sobre um tema tão complexo.


* Via twitter - Erik Figueiredo é Diretor Executivo do Instituto Mauro Borges de Economia e Estatística (IMB)

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