Cerrado em Nova York
- Michel Victor Queiroz
- há 4 horas
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*Edwal Portilho (Tchequinho)

O Cerrado responde por 55% da soja, 49% do milho e 85% do algodão produzidos no Brasil. Mais da metade da sua vegetação nativa segue preservada, e suas nascentes abastecem oito das doze maiores bacias hidrográficas do País. Esses dados ajudam a dimensionar o peso de um bioma que, por muito tempo, foi lembrado apenas em segundo plano, mas que hoje se consolida como peça central para a segurança alimentar e a transição climática.
Foi com essa perspectiva que levei o Cerrado para a Climate Week NYC, em Nova York, no último dia 23 de setembro. No painel “Agricultura e Inovação no Cerrado”, mostrei como Goiás conecta produtividade, sanidade e logística com conservação. Não falamos apenas de grãos e fibras: falamos de empregos decentes, energia limpa e oportunidades para pequenos produtores que dependem de crédito acessível, infraestrutura e transferência de tecnologia para prosperar.
Outro ponto decisivo do debate foi a necessidade de parametrizar e oficializar as métricas de carbono sequestrado em sistemas tropicais. Hoje, a falta de uma metodologia brasileira homologada impede que possamos transformar em ativos globais o carbono que já retemos no solo. A iniciativa da FGV Agro, que está desenvolvendo uma calculadora unificada para medir de forma consistente o sequestro de carbono no campo, é um passo histórico para dar reconhecimento internacional ao que o Cerrado já entrega.
Foi gratificante ver esse esforço reconhecido pela própria ONU. Como destacou Rodrigo Favetta, Diretor de Engajamento do Pacto Global da ONU - Rede Brasil: “O Cerrado tem uma vocação natural para a produção de alimentos, com clima e solo excepcionais. O painel mostrou que é possível produzir ainda mais, de forma sustentável, aproveitando áreas degradadas e preservando o que precisa ser preservado.”
Volto de Nova York com a certeza de que o protagonismo é do Cerrado. Somos, sim, fornecedores globais de alimentos, mas também guardiões de serviços ambientais fundamentais - da água que abastece milhões de brasileiros ao carbono que mitigamos no solo. O desafio que temos pela frente é transformar visibilidade em investimentos, políticas públicas e parcerias que consolidem este bioma como referência mundial de produção sustentável."
*Edwal Portilho (Tchequinho) é presidente-executivo da Adial Goiás