03/02/2023
Edwal Portilho
Até os anos 1990, a visão empresarial era monofocal. Se olhava apenas para o
público interno. Com a abertura da economia, vários setores e segmentos adotaram uma postura bifocal, com a inclusão do comércio internacional na plataforma de negócios. É uma verdadeira reviravolta na economia e na atuação das empresas. Goiás logo descobre os benefícios das vendas externas, sendo um dos Estados a investir continuamente em uma política agressiva de comércio exterior.
E os números comprovam o quanto é quase inesgotável essa fábrica de recordes. No mais recente ciclo, da gestão do governador Ronaldo Caiado, quando as exportações do Estado alcançaram US$ 14,6 bilhões, resultado de 2022, ante os U$$ 7,5 bilhões registrados em 2018. Os números, que são do Ministério da Economia, mostram o vigor dos negócios em Goiás, a capacidade do empresário em desbravar mercados e o acerto da política pública para o setor.
Mas, ao dizer que é quase inesgotável o potencial para recordes do setor, coloco em debate alguns motivos, ameaças reais e caminhos para o setor.
Mas, ao dizer que é quase inesgotável o potencial para recordes do setor, coloco em debate alguns motivos, ameaças reais e caminhos para o setor.
O resultado de hoje, fizemos ontem. O de amanhã, faremos hoje. E, este é o dilema. Hoje a curva do comércio exterior é incerta. Estamos próximos de assistir à primeira grande desaceleração econômica do maior comprador do País, a China. Assim como a sua expansão trouxe efeitos estrondosos por mais de uma década, essa previsível freada chinesa pode desarrumar mercados e transformar o céu de brigadeiro em uma tempestade de efeitos incontroláveis.
Se fosse só este sinal de risco já seria preocupante, mas temos outros, como a inflação mundial e o risco de recessão em outros mercados – além do chinês. Sobre inflação, é bom destacar que este último ciclo teve forte efeito da pandemia da covid-19, de 2020 a 2022, com gigante efeito inflacionário. Em alguns produtos, necessariamente não se dobrou a exportação, como pode parecer, mas dobrou o preço. Exemplos próximos, como a soja e milho, destaques da nossa pauta de exportação, eram vendidas a R$ 75 e R$ 35 a saca, respectivamente. No pós-covid, os valores da mesma saca bateram R$ 200 (soja) e R$ 80 (milho).
O novo ciclo que se inicia em 2023 tende a ser diferente – o momento é de risco. Temos uma China e outros grandes cambaleando e uma nova base de preços que devem sofrer correções nada favoráveis aos exportadores.
É uma excelente ocasião para Goiás revisar os processos e, reconhecendo a relevância e a expressividade dos números do comércio exterior, dar um tratamento que convirja com a nova realidade. Entre estes pontos, o principal é dar maior autonomia à pasta, que hoje está distribuída em outras secretarias, mas há tempos merece, por competência e resultados, destaque maior na estrutura administrativa – até para desengessar os processos de construção de um grande projeto.
O governo goiano pode antecipar a crise e ter um plano de contenção, digna da maturidade deste segmento que hoje tem uma corrente de negócios – exportação mais importação – superior a US$ 20 bilhões por ano. Em reais, é o dobro do PIB de Goiânia, a maior cidade do Estado. O que hoje tem esse tamanho no Estado? Só isso, já justificaria uma atenção diferenciada para oportunizar ganhos e acelerar políticas próprias.
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