04/01/2023
Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – O governo do recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá entre os principais desafios na economia os caminhos da dívida pública, o controle inflacionário, um crescimento possivelmente mais modesto e um alto nível de endividamento das famílias.
A pesquisa Boletim Focus com economistas consultados pelo Banco Central projeta um Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8% neste ano, inflação de 5,31%, câmbio em R$5,27 e taxa de juros básica (Selic) em 12,25%. Para 2022, as estimativas são de IPCA de 5,62% e crescimento de 3,05%.
Segundo o banco Goldman Sachs (NYSE:GS), níveis recordes de famílias endividadas, emprego com alta moderada, condições financeiras e de crédito apertadas, além da erosão confiança do consumidor “provavelmente gerarão ventos contrários para atividade do comércio nos próximos meses”.
O Bank of America (NYSE:BAC), por sua vez, avalia que a percepção sobre o risco fiscal piorou, trazendo à tona discussões sobre uma nova âncora fiscal, aprovação de uma Reforma Tributária, e elevando projeções para inflação e juros.
Inflação
O controle inflacionário segue como desafio do governo eleito. Ainda que com queda expressiva, o indicador oficial ainda está acima da meta estabelecida do Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,5% e com limite de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Para 2023, a meta é ainda menor, de 3,25%.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anual saiu de dois dígitos até meados do ano para uma taxa de 5,90% em novembro. A tensão aumentou com a promulgação no Congresso da chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que autorizou aumento de gastos em R$145 bilhões no ano que vem para viabilizar o pagamento de programas sociais, como os R$600 do Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família, além de bancar o Auxílio Gás e o Farmácia Popular. O receio de economistas é de que o aumento desses gastos resulte em uma política fiscal expansionista afetando o controle inflacionário, o que poderia fazer com que os juros precisem ficar mais altos por mais tempo ou tenham que subir novamente.
Em relatório, o banco BTG (BVMF:BPAC11) afirmou que há evidências de que o desenho atual do programa Auxílio Brasil tem incentivado uma divisão artificial das famílias beneficiárias, o que afetaria o direcionamento e a efetividade do benefício. “Ao garantir um pagamento mínimo de R$ 600/mês para todos os beneficiários, o novo programa enfraquece a ligação entre o valor do benefício e as características do domicílio”, detalham os analistas.
Juros
Em março do ano passado, a taxa de juros básica da economia brasileira passou do nível mais baixo em toda a sua história, de 2%, para 2,75%, dando início a um ciclo de aperto monetário que parece não ter data para acabar.
A Selic está em 11,75% desde a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de agosto de 2022. Enquanto há alguns meses o consenso era de que ela iria cair, possivelmente no segundo semestre do ano que vem, aumenta o receio de que a autoridade monetária precise de uma nova elevação residual.
PIB
Com expectativa de um cenário externo mais desafiador, com projeções de desaceleração das economias avançadas devido às políticas monetárias contracionistas, o contraponto pode vir do gigante asiático, maior parceiro comercial brasileiro. “A China pode ter um papel central em um melhor desempenho econômico mundial, caso consolide a sua reabertura’, segundo Fabrício Silvestre, economista do TC.
O Bank of America espera um crescimento do PIB de 0,9% em 2023, contra uma estimativa de de 3,25% para 2022, “uma vez que os juros altos devem limitar o efeito positivo de arraste deste ano”.
O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou alta em doze meses de 3,6% no terceiro trimestre deste ano.
Endividamento
Pesquisa elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o índice de famílias endividadas no país atingiu 78,9% em novembro, enquanto o percentual de inadimplentes, com dívidas em atraso, apresentou recorde de 30,3%.
Taxa de desemprego
A taxa de desocupação brasileira está em 8,3%, segundo dados de novembro divulgados pelo IBGE. O indicador vem apresentando queda durante o ano, mas é ponto de atenção para 2023 devido à continuidade da política monetária contracionista, que tende a ter efeitos mais demorados, segundo especialistas.
Para a XP (BVMF:XPBR31), no entanto, a taxa de desemprego deve subir no ano que vem devido às projeções de um crescimento econômico mais moderado e abaixo do potencial.
Fonte: investing.com
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